Ela cortava o cabelo, mas saía do salão pesquisando técnicas para fazê-lo crescer mais rápido. Queria ser estilosa e inovar no visual, mas as combinações de roupas eram sempre as mesmas. Reclamava de falta de sorte no amor, mas insistia no mesmo cara há quase dois anos.
Ela estava de saco cheio das pessoas ao seu redor, mas não tentava frequentar lugares diferentes. Nunca ousava trocar palavras com quem não conhecia. Queria ser amiga do ex-namorado, deixar toda a mágoa para trás. Mas fingia que não via toda vez que ele passava. Dizia que precisava de mudanças, mas fazia tudo sempre igual.
Ela era chata, reclamona, cansativa. Ela foi assassinada à sangue frio. A assassina não se arrepende, não teve dó de matar o passado sem graça. Depois da morte brutal, a assassina abriu o armário e combinou a calça rosa com o casaco brilhoso. Olhou-se no espelho e arriscou um penteado diferente.
Então pegou o celular e discou o número do ex-namorado de sua vítima. Mandou a real: “Saudades de você… Posso te ver?”. Ele não esperava tal atitude, mas compartilhava do mesmo desejo. A assassina saiu de casa e se matriculou num curso de dança.
Foi para uma balada em que não conhecia ninguém e dançou com pessoas desconhecidas. Ligou para o melhor amigo e pediu para ele apresentar aquele amigo dele que ela sempre achou um gato. Descobriu uma banda nova. E, quem diria, ela ouvindo sertanejo?
A assassina fez o que quis com o corpo que roubou. Não se arrepende de nada. A morta olhou de fora, se arrependendo de não ter tido a coragem da outra. Agradeceu pelo assassinato, ficou feliz por estar morta.
Bruna Paiva
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