Você presta atenção às suas aulas de história? Eu vou confessar que nunca foi minha matéria preferida. Entretanto, desde que comecei a prestar mais atenção às aulas, passei a gostar mais de estudar o passado. É quase como ler um romance, a diferença é que a história é real e tem o mundo de hoje como consequência.
Esse interesse pela disciplina me levou ao livro 1808, de Laurentino Gomes. A obra é uma aula de história completa sobre a vinda da Família Real Portuguesa para o Brasil. Eu amei o livro.
Além de contar o que aconteceu no ano de 1808 de uma forma muito mais divertida que as aulas da escola, o livro é esclarecedor. Digo isto porque quem lê percebe que o país não mudou quase nada no que diz respeito a questões sociais e culturais.
Sempre ouvi dizer que a corrupção está nas raízes dos brasileiros, e agora percebo que infelizmente é a verdade sem tirar nem pôr. Os brasileiros lidam, suportam, fingem que não veem e praticam a corrupção desde o início do país. Ninguém faz nada sobre isso desde aquela época.
O jeitinho brasileiro? Adivinhem. Começou por lá também. Aliás, veio dos próprios portugueses que concediam privilégios políticos em troca de favores, desviavam dinheiro, entre outras maneiras de se corromper. O povo brasileiro nasceu no meio dessa loucura. Não é difícil perceber a plena ligação do passado com o presente.
A falta de educação que hoje presenciamos por aí, também não fica atrás. Em 1808 ninguém praticava higiene, bons modos ou respeito pelos outros. Pessoas comiam sem talheres e isso era encarado com normalidade. O rei D. João, que possui um histórico pífio de banhos em toda sua estadia no Brasil, foi diversas vezes flagrado defecando nos jardins do palácio, onde hoje temos a Quinta da Boa Vista. Já estendeu sua toalha naquele chão para um piquenique? Pois é, tive a mesma sensação.
A parte mais tocante do livro, que ganhou o Prêmio Jabuti, é a que trata da escravidão. A injustiça humana é algo que me revolta demais. Não consigo ler nada sobre nazismo sem cair em lágrimas. A escravidão tem o mesmo efeito. Um livro que era para ser informativo, me fez chorar com as descrições reais de condições desumanas com que pessoas eram tratadas quando feitas de escravos.
O livro, que foi resultado de uma pesquisa gigante do autor(incluindo consultas a bibliotecas de Portugal e outros países), é maravilhoso e tem mais duas sequências: 1822, que se passa durante o processo de independência do país, e 1889, que conta a proclamação da República. Encontrei com o autor na Bienal do Livro, como já contei aqui pra vocês, e ele foi super simpático comigo.
Também na Bienal, encontrei uma versão dos livros voltada para o público infantil. Repletos de ilustrações, é uma ótima ideia para fazer as crianças se interessarem pela história do país.
Na versão original, a leitura é pesada, mas essencial para quem vive no Brasil de 2015. Principalmente aqueles que amam falar de política sem ter muitos argumentos.
Engraçado perceber que 207 anos depois as pessoas continuam acatando algumas imposições do governo e injustiças sociais sem questionar ou lutar mais por seus direitos. Ao ler 1808, percebi que Cazuza tinha razão: vivemos num museu de grandes novidades.
Bruna Paiva
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os livros do Laurentino Gomes não foram feitos com a intenção de seguir uma linha histórica na pesquisa. Laurentino é jornalista e não historiador, e isso fica claro no livro, onde ele usa “suas investigações” como fatos históricos… qualquer pessoa que tenho cursado história sente calafrios quando alguém baseia seus conhecimentos sobre livros que são escritos de forma a se aproximar muito de um romance. É um livro muito honesto, com uma leitura agradável. Mas não é uma fonte histórica sobre os acontecimentos.
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Oi, Victor. Muito obrigada por seu comentário. Tive o cuidado de não apresentar Laurentino como historiador. A pesquisa do jornalista foi imensa e isso também fica claro no livro. Apesar de não ser um historiador, e talvez por isso, conta a história de uma maneira extremamente interessante. Já tive diversos professores de história, mas nenhum me fez gostar tanto de estudar os fatos como o livro de Laurentino…
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Eu vejo isso como vantagem também. Não quis desmerecer o trabalho dele, porque acho qualquer tentativa válida. Meu comentário foi apenas no sentido de, por exemplo, alguém ler a trilogia Queda de Gigantes do Ken Follet (que por sinal é sensacional) e imaginar ter conhecido a história como aconteceu. Acredito que toda tentativa no sentido de estimular a leitura é extremamente válido. Apenas quis registrar que estou acompanhando seu blog. Desculpe meu desabafo historiográfico.
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Fico muito feliz que esteja acompanhando o blog! Muito obrigada, e comente sempre!! Adoro saber o que vocês acham do que leem por aqui.
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Também gostei muito deste livro. Li um outro interessante, relacionado a higiene, Passado a Limpo, do Eduardo Bueno. O livro fala de outras peculiaridades escatológicas da vinda da corte portuguesa. Sinistro.
Gostei do 1822, mas achei o 1808 melhor. O 1889 já tá compraso, mas aonda não li.
Divirta-se com seus livros.
Beijos
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Esse Passado a Limpo parece ser bem legal. Já tenho o 1822 e o 1889 também.Estão na minha lista de leitura!
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